quarta-feira, 22 de julho de 2009

NAQUELES DIAS

"Quero expurgar os meus demônios, sinto muito pela minha quase clausura. Não suporto mais essas lembranças que me corroem a cabeça e muito menos os fantasmas que me habitam, o arrependimento do envolvimento que não queria que tivesse vingado. Você que me destruiu por muito tempo... eu que sabotava tudo que queria nascer no meu peito por sua causa... que nada deu em nada. Sinto muito por mim, por minha quase morte prematura, por drogas e encontros infertéis. Culpo-me pelas madrugadas tomadas de mágoas, pelos amigos que nunca tive, mas que os maquiei como se existissem... por meu medo de ficar sozinha já estando e por minha falta de confiança em todos. Sinto muito por ter amado os fracos e não ter sido nenhuma madre deus, ou então Pietá, por ter sido malvada, feia e suja... sem poesia. E ás vezes transbordar de ódio e lamúria, mas também de rir do sofrimento que te imprimia sempre que te via e fingia não te ver... com um riso sarcástico na cara e o coração pulsando de saudade e de ódio. Corro agora para o nada, ver a todos que me cercavam com desdém... estou aqui, sozinha, expurgando. Detesto ter de lembrar dessas coisas, mas é o que tira o meu sono durante a noite, que me consome, deveria ter te odiado mais? ter sido mais caustica que fui? ter desprezado e te cuspido na cara, como um bom e velho conto de Nelson Rodrigues? pra que eu pudesse ter saido como uma bela e inconsciente puta, vitoriosa, sem demonstrar remorsos e rancores, mas rir da sua cara... estúpida que fui, querendo ser Cinderela... as Cinderelas não usam drogas, não bebem, são brancas ahahhahahha... queria mesmo ter sido a mais fútil de todas, assim teria o céu... Mas quis sonhar demais, te colocando num pedestal, de lata... nem ouro valeria a pena... agora estou aqui trancada num quartinho vagabundo... o sol quadrado, a luz a piscar, o cigarro a amarelar meus dentes e meu peito sem alma... suja, travestida: ah!!! se não fosse por mais um gole de qualquer coisa vagabunda já me teria atirado daqui, para o nada. Mas ver meus olhos vermelhos, mal dormidos, me faz rir amarelo de mim mesma. Vagabunda!

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