segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aquilo que não me mata, só me fortalece - Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

a quem há de chegar

a quem há de chegar essa é a frase que engulo todos os dias com um copo dágua. a quem há de chegar há muito que se foi embora. a quem há de chegar mais um fraco ditando palavras vagabundas a respeito do amor. a quem há de chegar que seja mais eterno que duro... a quem há de chegar para me tirar desse mundo de nuvens vermelhas e chuvas de gelo, quente como um beijo seco de verão.

a quem a de chegar

terça-feira, 10 de novembro de 2009

UM DIA BOM
O nome dela era Márcia, tinha nascido assim, mas sentia que poderia ser Agatha, Myriam assim mesmo com y, Pietra como nas novelas das seis.
Morava no subúrbio, não tinha muitas chances de crescer não... Alias tinha de se contentar porque era sobrevivente de muitas coisas: da fome que atravessou quando era bebê em formação no ventre de sua mãe; da maldição da escola publica, da casa de três cômodos que dividia com cinco pessoas e dos possíveis abusos que provavelmente poderia ter sido acometida, mas que não aconteceram. Não era bonita nem feia, lembrava um pouco o personagem de Macabéia de Clarice. Mas era mais esperta que ela. Pelo menos pensava que era. Não tinha grandes aspirações na vida não. Pensava em ser feliz. Não sabia como, mas pensava que era possível. Estudava, não sabia também porque, mas sabia que aquilo seria importante. Não saía da vidinha que tinha, por que não aprendeu a questionar.
Márcia pensava em tudo: primeiro queria se casar de véu e grinalda na pequena e mofada igreja antiga do bairro próxima a linha de trem; em se tornar uma princesa; em colocar silicone; em viajar e se apaixonar por um estrangeiro qualquer que a tiraria daquela miséria que vivia.
Passava assim os dias e as horas a transitar pelas cidades em que morava indo para o trabalho de faxineira no centro da cidade. Olhava tudo... Pensando no grande dia. Queria ser livre, alias, pensava ela ser livre, até que sempre, o ônibus a tirava desse sonho quando não parava no ponto e a deixava ali: estacada, parada e com raiva. Tinha de caminhar olhando a paisagem vermelha da chaminé da Petrobras que vomitava fogo, ouvindo os barulhos do trem, das fábricas de reciclagem e da neblina de poluição, mas sentia-se viva. Parecia protegida. Chegava em casa e comia, tomava banho, sentava em frente a televisão para assistir à novela: lá tinha uma personagem, negra como ela, mas não era pobre, era uma negra rica, modelo, viajava o mundo e era bem amada.
Ao seu redor, passava o olho e não gostava do que viu: uma TV antiga, uma gaiola com dois papagaios, uma geladeira velha e vermelha, um retrato de Jesus crucificado que mexia os olhos, vindo do Paraguai ou da China, não sabia ao certo. Sabia que podia ser mais que aquele lugar a fazia acreditar que não. Não queria morrer na praia embora o seu cotidiano a empurrasse pra isso.
Namorava, dizia que amava, mas não sabia o que era amor. Tinha um cara que a fazia feliz de vez em quando, feliz no sexo, isso mesmo. Era negro, ralava muito também, via a saída de sua vida na formação de uma família, indo aos domingos na igreja e nas sextas ia pro boteco e jogava sinuca... Era bonito, como os negros pintados por Portinari, lábios grandes, mãos e pés enormes, além da força viril que a fazia fêmea em seus braços. Era o recurso animalesco que a tirava da realidade por vezes, a consumia fazendo-a ferver e depois acabava. E então chegava a segunda-feira, estava tudo de volta.
Conseguiu então, através de um programa de inclusão do governo, estudar numa oficina de artes. Não sabia nada sobre aquilo, mas era de graça, e o tempo que tinha entre as faxinas e a sua ida para casa não iria interferir no curso. Tomou conhecimento de outro mundo que poderia ser uma salvação para ela. Ousou... Foi até lá, queria ver o que era aquelas aulas, além de ser de graça, ganhava o vale-transporte para ir embora.
Quase se via sem fala perante o grupo, lembrou-se do pai que só trabalhava e falava que pobre não tinha vez, o deixou lá atrás: guardado no passado.
Começaram as aulas: história da arte, pintura, desenho, mal sabia o que era aquele universo, pela primeira vez viu coisas bonitas e que não tinha visto antes, esquecia o bairro empoeirado que morava.
Sentia-se valorizada, como nas faxinas que fazia: arrumava a casa dos outros como se fosse a sua, pensava e fazia de conta que aquele luxo todo era seu, deixava tudo como se fosse para ela: limpo, arrumado, harmonizado. Mas ali era diferente: criava coisas no papel e tudo que fazia ficava registrado e notado, de uma forma que não sabia que existia, mas tinha uma fantasia ali, parada, esperando. Começava a se entrosar com a turma: mulheres com depressão e na menopausa; velhos anarquistas e sindicalistas aposentados; adolescentes pirados e perdidos sem rumo; moças que estavam na faculdade e maridos surtados indicados por médicos psiquiátricos e pessoas comuns.
Começava a ver poesia em tudo que a cercava. Viu que aquele lugar feio e vermelho que morava poderia ser belo, poético e caótico. Que o ônibus e o trajeto para a casa eram bonitos também.
Esqueceu-se pela primeira vez dos desafetos e do namorado... Esqueceu da infância medíocre, dos domingos na rua da feirinha e do supermercado abarrotados de gente fazendo compra e do churrasco na laje, da bebedeira do fim de semana e do ônibus lotado na segunda-feira com ar alcoolizado pelos passageiros.
O mundo agora havia se ampliado nas imagens do Renascimento, Barroco, na loucura e questionamentos da arte contemporânea, no cinema de Fellini, Glauber Rocha e nas aulas no Parque Municipal e na Praça da Estação. Sentia o coração se aflorar para um mundo novo, como se abrisse uma nova dimensão de cores, texturas, poesias e criação. Começou a ler e a escrever sobre tudo que via. As faxinas agora tinham ampliado e quase todas as mulheres do condomínio queriam que ela fizesse o trabalho pesado, ela via isso como uma possibilidade maior de entrar um dinheiro para comprar material de pintura, papel, pincéis. Começava a redecorar a casa que dividia com outras cinco pessoas da família, que achava tudo aquilo uma bobagem. Jogou fora a imagem do Cristo que mexia o olho vindo do Paraguai, achava aquilo agora horroroso e kitchen.  Até os cabelos que eram tratados com Henê Maru e alisados a força, começou a deixá-los natural black, se sentia bonita assim.
Sabia que seu esforço poderia ser recompensado com conhecimento. Era a primeira a chegar à turma e uma das últimas a sair. Devorava os livros que o professor trazia, pedia emprestado, levava para casa, sentia-se muito, muito feliz. Já pensava em vestibular.
Mas alegria de pobre dura pouco. O programa ficou paralisado por falta de verba. Ela então voltou àquela modorra de antigamente. Tentava manter o ritmo de esforço e criação que imperava há um ano. Queria tudo e tinha pouco, mas o tudo era pouco também: queria só estudar, ter conhecimento. Engolir o mundo da arte porque começava a entender que só ela mantinha viva a presença do homem na eternidade.  E sua eternidade se resumia às vezes a oito horas de trabalho braçal, o trajeto dos ônibus que pegava, e a ilusão de um futuro melhor. Futuro não precisava ser muita coisa não: estudar e ter conhecimento, nem precisaria viajar, ficaria feliz se a possibilidade de mudar de lugar, de cidade e de casa fosse uma realidade. Tentava, tentava e tentava, tinha a impressão que tudo estava mudando, mas depois acordava.
Via agora tudo que fazia com uma canseira que não tinha tamanho: fazia tudo que podia, mas parecia que o dinheiro que ganhava não dava para nada. Via que as madames para as quais trabalhavam estavam muito mais ricas e perfumadas e ela sem aumento; o dinheiro não dava pra nada além de comprar comida; a casa parecia mais precária: o amianto do telhado tinha rachado, o piso de taco de madeira estava cheio de cupim, o chuveiro tinha dezenas de fios desencapados, o quintal parecia um depósito de capim, seus desenhos e trabalhos ficavam cada dia mais amarelados e perdidos porque tinha de se virar e não tinha tempo mais para se entregar ao que gostava.
Não tinha mais motivação.  Sentia um escárnio grande ao entrar no ônibus de manhã, olhava a todos com desprezo, como se todos eles tivessem culpa de serem burros, de pensar em procriar e ganhar só o pão de cada dia, e ficar feliz com isso. Chorava no ônibus de tanta indignação, e com um agravante: a violência.  
O trajeto do ônibus se resumia a Via Expressa e a noite no caminho de volta  ele ficava um pouco mais vazio, esperava o horário de pico passar para ir embora, para não ter de encarar aqueles miseráveis com sorrisos e historinhas banais a respeito de seus empregos e da vida dos patrões: sentia-se como se estivesse num navio negreiro contemporâneo.
Foi ai que o infortúnio escreveu mais um capitulo na sua repugnante vida ruim: um assalto! Uma dupla de adolescentes: usando blusas dos Racionais MC´S, de cabelos amarelos, possíveis viciados da desgraça do crack, de armas nas mãos e havaianas nos pés. Anunciaram o assalto. Foram recolhendo tudo que viam: celulares ultrapassados, vale-transporte dos passageiros porque o trocador havia guardado os dele, por sorte sua ou da empresa, no cofrinho do ônibus; sacolas de compras da Marisa e C&A. Espancaram uma senhora que estava sentada no banco da frente porque ela não queria lhe entregar sua sacola de plástico. Os dois fizeram um arrastão no ônibus, além do roubo, a humilhação, pois todos eram iguais na desgraça os passageiros e os ladrões: estúpidos, famintos e viciados. Quando chegaram perto de Márcia para levarem seus únicos dez reais, por que era fim de mês, eles disseram: “Anda sua vagabunda me passa ai tudo o que você tem!” o ódio a tomou inteira, olhou para aquela fôrma mal feita de humano, para aquele rosto coberto de espinhas e os olhos vermelhos de adrenalina e crack, queria matá-lo ali mesmo no piso cheio de chicletes pregado e sujo de terra vermelha do ônibus... Mas teve medo, aliás, o medo a tomou inteira por causa da arma, e das mãos trêmulas do ladrão. Entregou os dez reais para o adolescente magrelo e que se achava o Fernandinho Beira-Mar em sua onipotência marginal. Não carregava bolsa, tirou do bolso a nota mofada e a entregou relutante.
Sentiu ódio demais: não tinha coragem de tirar nada de ninguém, nem quando as patroas lhe davam as sacolas de pães dormidos, sabia que podia levar para casa, mas sempre pedia, numa obediência e honestidade burra que só os pobres são forjados a ter desde a infância. “Como aqueles dois tinham coragem para fazer aquilo?” Coragem. Essa era a palavra que talvez faltasse para tirá-la daquela vida... Daquela desgraça de vida! Pensou que sendo corajosa, poderia ter ido mais além do que a linha de trem, dos ônibus e das faxinas.
Não lembrava de que ela também era fruto de uma desigualdade social e econômica que confinavam a maioria das pessoas a guetos enterrados na poeira e nas periferias sem nada do poder publico. Sentiu-se extremamente desamparada. Os Ladrões se foram, o motorista seguiu viajem até o 18º Batalhão, onde foram desprezadamente amparados pelos policiais de plantão que não fizeram nada além de burrocratizar o procedimento de registrar a ocorrência do roubo, registrar os bens pessoais surrupiados pela dupla. E os dez reais? Pensou Márcia e pela primeira vez ousou perguntar para um dos policia, “não podemos fazer nada!” Ódio latente, choro contido, a vergonha de ser pobre a tomou inteira porque se ela fosse rica e se estivesse num bairro nobre o procedimento seria outro. Engoliu aquilo tudo com mágoa. Chegou em casa duas horas mais tarde, foi a conta dela tomar banho, engolir um feijão com arroz, ovo e tentou dormir pra acordar de madrugada para trabalhar no outro dia, mas não conseguiu.
A indignação era muita, chorou por umas duas horas, pensou, pensou e dormiu.
Cinco da manhã o relógio despertou, era horário de verão, ainda estava escuro, o corpo e os olhos doíam. Um arrependimento de ser pobre a abateu por inteira. Desligou o relógio, virou para o canto da cama velha e dormiu. Pela primeira vez sentia que as rédeas de sua vida lhe pertenciam: não iria fazer faxina aquele dia, não queria encarar o apartamento daquela mulher burguesa e branca que fazia filantropia porque era bom para a sua pele; sentia nojo dela, “mulher porca branca!” pensou, mas ela tinha dinheiro; na sua futilidade ela tinha tudo que Márcia queria: tinha estudado arte, era filha de intelectuais de classe média alta, podia pagar para ir a cinemas, comprar livros, viajar e trabalhava numa ONG, ou seja, dizia que cuidava dos pobres, mas não enxergava o trabalho e a miséria de Márcia. Não iria para lá. Seria pior.
Márcia era negra, mais afrobege que negra, não era gorda nem magra, tinha os cabelos afros e os braços malhados pelas faxinas. Os traços de índio e de negro harmonizam o rosto com marcas de expressão do sofrimento e da desilusão de vinte e poucos anos.
Acordou não falou com ninguém, nem com a avó que estava de pé e com o radinho de pilhas velho na rádio Globo, no inferno do Padre Marcelo. Abriu o jornal, aquele jornalzinho vagabundo de vinte e cinco centavos do dia anterior, tomou um gole de café no copo lagoinha comeu um pedaço de pão com margarina. Leu as notícias de violência contra a mulher, ocorrência de trafico de drogas, sobre o governo e corrupção, lembrou-se do assalto na noite anterior e foi aos classificados.
Vendia-se de tudo, desde celulares, cabelos e dentes de implantes a carros... Negociação de dívidas e retirada do nome do SPC e SERASA, anúncios de mãe de santo e trago seu amor em 72 horas, pedidos de oração, de compra e venda de imóveis e alúgueis, e outros assuntos. Leu então os anúncios de emprego: balconista, cobradora, costureira, caixa de supermercado, nada se encaixava em seus sonhos. Já tinha trabalhado nessas coisas e sabia muito bem como era: oito horas de trabalho, salário mal remunerado, horas extra e mais desilusão. Tinha certa autonomia com as faxinas.
Mais uma página: MUSAS BH, LUX GIRL SCOTH BAR, GPGBH acompanhantes, Relax, Fernanda 23 anos, morena clara, pele macia, beijo na boca sem frescura (31)3422 154...; Teve vergonha de continuar a ler... Mas voltou os olhos para o final da página, tinha dois anúncios: “ACOMPANHANTE DE EXECUT (31) 3275 294... Contrata garotas de 18 a 25 anos c/ boa aparência p/ trabalhar. Zona sul, altos ganhos + benefícios” e o outro: REVENDEDORES (AS) Aqueçam as vendas ganhe dinheiro extra VIRGIN, IRON e HOT GIRL. Oferecemos linha completa de produtos eróticos. Aceitamos cartões VISA e MASTERCARD. (“31) 3082 789...”
Recortou a página e guardou no bolso, foi tomar um pouco de sol, era quarta-feira e não tinha nada para fazer até a tarde. Olhou ao seu redor e pensou nos anúncios, se transformasse em puta poderia ter uma vida mais ou menos pior? Será que teria dinheiro suficiente para poder estudar, comprar roupas novas? Será que ela era bonita o suficiente para ser puta? Será que iriam aceitá-la? Foi até o banheiro olhar seu rosto, sentiu-se bonita, mas não tinha boas roupas que valorizassem o seu corpo para uma possível entrevista para acompanhante. Pensou em pedir a vizinha uma roupa e maquiagem emprestada que a tornasse bonita e se perguntassem para ela a finalidade das roupas e da maquiagem? Será que saberia andar de salto alto? E quanto ao sexo, será que saberia fazer tudo e será que estaria disposta a fazer de tudo o que os clientes quisessem? Eram perguntas que ela fazia o tempo todo... Achou que não teria coragem praquilo, lembrou-se mais uma vez do episódio do ônibus, talvez àquela hora a coragem e escolha fizesse a diferença para sua vida.
Na sua casa não tinha telefone, teria de ir ao bar da esquina no telefone público para ligar e se ouvissem a conversa dela? Os bêbados que ficavam por ali espalhariam para toda a vizinhança a conversa? Será que tinha um cartão telefônico no bolso da calça? Pensou em pedir conselho para alguma amiga, mas quem? Achou que todo mundo olharia torto para ela. No bairro a noticia de que fulana ou cicrana era puta ou garota de programa corria rápido... Pensou na avó, nos irmãos, na mãe. Ninguém se preocupava com ela, a menos que tivesse dinheiro para dar em casa, estava ela em desespero.
Não queria pensar muito nas conseqüências senão ficaria o resto da vida naquele bairro, foi até o portão, num entra e sai daqueles que antecedem a tomada de decisão para a vida inteira. Respirou fundo. Viu sua vida passar como um filme. Olhou a página mais uma vez, era aquilo ou nada, tomou fôlego e foi ao telefone. Discou... Do outro lado da linha uma voz feminina atendeu, Márcia falou com voz embargada: “Alô? qual o endereço de vocês? Tenho interesse no anúncio, vocês parcelam em quantas vezes os produtos para revenda?”  

domingo, 18 de outubro de 2009

os dias bons

os dias bons estão chegando bem perto, perto...
até que enfim... segue direto, reto sem olhar para trás.
vou deixar tudo bem atrás... lá atrás...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Até que enfim a madrugada madura e quente chegou...
já nao terei vontade de chorar nem mesmo perder o sono quando o
pesadelo deixar de ser lembrança...

chega de sombras, delirios, expectativas
chega de ficar esperando o que nunca vem...
estou aqui a espera de mim mesma.
A espera de você

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO

Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.

Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh'alma enfraquecida pela solidão?

Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.

Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.


Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

sábado, 15 de agosto de 2009

SEM ÁLCOOL

Hoje não existem muitos conselhos para se dar ou receber, estou decepcionada com os ditos amigos, colegas e estúpidos que cismam em aparecer na minha vida... em frente, só o muro da minha casa que é vermelho e me dá um pouco mais de força que os fracos que aparecem pra fazer comentários idiotas de esperanças que eles mesmos nunca tiveram, como palavras de consolos tiradas de novelas vagabundas. Sinto muito pelas noites perdidas, sinto muito pelos momentos, digo, momentos felizes que tive: quisera não ter os tido! Pra mim o que vale é a música que ouso e que é de graça, que logo, logo se esvai no silêncio do espaço e do vazio. Não olho para trás, aprendi assim. Não quero compaixão, paixão, amor, ódio ou piedade de ninguém! vou sobreviver e manter a minha pequena luz acesa durante a madrugada e o vento do amanhecer. E aos que esnobaram minha existência desejo só o frio e nada mais, uma cerveja sem álcool e quente... Sem samba, sem música, sem gente... só a cerveja.
SEM ÁLCOOL.

domingo, 2 de agosto de 2009


O ESQUECIMENTO É UMA VIRTUDE O passado condensado aqui na minha memória me frita, É como se as feridas se abrissem com força toda vez que tento esquecer, Elas sangram forte, doem purulentas, carnudas... Crio coisas, inverto sonhos, caio em abismos, planto flores, Meu umbigo: campo fértil...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

o título é como sobreviver a rodas de samba e afins... se alguém souber o que pode ser usado pra isso me digam... sem ser tarja preta...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

NAQUELES DIAS

"Quero expurgar os meus demônios, sinto muito pela minha quase clausura. Não suporto mais essas lembranças que me corroem a cabeça e muito menos os fantasmas que me habitam, o arrependimento do envolvimento que não queria que tivesse vingado. Você que me destruiu por muito tempo... eu que sabotava tudo que queria nascer no meu peito por sua causa... que nada deu em nada. Sinto muito por mim, por minha quase morte prematura, por drogas e encontros infertéis. Culpo-me pelas madrugadas tomadas de mágoas, pelos amigos que nunca tive, mas que os maquiei como se existissem... por meu medo de ficar sozinha já estando e por minha falta de confiança em todos. Sinto muito por ter amado os fracos e não ter sido nenhuma madre deus, ou então Pietá, por ter sido malvada, feia e suja... sem poesia. E ás vezes transbordar de ódio e lamúria, mas também de rir do sofrimento que te imprimia sempre que te via e fingia não te ver... com um riso sarcástico na cara e o coração pulsando de saudade e de ódio. Corro agora para o nada, ver a todos que me cercavam com desdém... estou aqui, sozinha, expurgando. Detesto ter de lembrar dessas coisas, mas é o que tira o meu sono durante a noite, que me consome, deveria ter te odiado mais? ter sido mais caustica que fui? ter desprezado e te cuspido na cara, como um bom e velho conto de Nelson Rodrigues? pra que eu pudesse ter saido como uma bela e inconsciente puta, vitoriosa, sem demonstrar remorsos e rancores, mas rir da sua cara... estúpida que fui, querendo ser Cinderela... as Cinderelas não usam drogas, não bebem, são brancas ahahhahahha... queria mesmo ter sido a mais fútil de todas, assim teria o céu... Mas quis sonhar demais, te colocando num pedestal, de lata... nem ouro valeria a pena... agora estou aqui trancada num quartinho vagabundo... o sol quadrado, a luz a piscar, o cigarro a amarelar meus dentes e meu peito sem alma... suja, travestida: ah!!! se não fosse por mais um gole de qualquer coisa vagabunda já me teria atirado daqui, para o nada. Mas ver meus olhos vermelhos, mal dormidos, me faz rir amarelo de mim mesma. Vagabunda!

domingo, 12 de julho de 2009

ontem quis trazer as notas que ouvi pra perto, mas como? peguei um ônibus, fechei meus olhos, busquei as lembranças frescas e precisei penar e esquecer o passado pra elas chegarem e chegaram, poucas e tímidas, me fizeram felizes.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Para aprender a melancolia.

Nas horas tristes, filho, não diga nada. Coloque um silêncio bem alto no aparelho de som. E comece a escrever bem baixinho.(Chorar até que pode, desde que não lhe embace a vista). Só não pare: tristeza é pra escrever. Tome posse dessa dor que é toda sua. Até que passe e venha outra mais bonita.
...do blog ~PARA FRANCISCO~

sábado, 4 de julho de 2009

ainda bem que sobrevivi... sobrevivi a sua crueldade e a sua arrogância...
sobrevivi também às noites mal dormidas e às imperfeições que jurava que tinha....
mas que eram mentiras.
sobrevivi à tempestade de acusações e de tristezas suas que não eram verdades mas que eu as tinha afim de te ter comigo... como um fantasma.
sobrevivi à culpa de ser mal amada e de mal amar por insistência
a chorar e rir de alegria no frio da despedida que nunca foi...
até mais

sábado, 27 de junho de 2009

Meu barracao...
meu menino agora quer nascer
assim como o sol e o dia que a gente sabe que tem
desde cedo já sabe de tudo
e veio mesmo assim...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Hoje acordei e acreditei que as coisas são melhores depois que passa a escuridão da noite, aí vem a clareza e a convicção de oito horas de um dia novo, olho pra trás e tudo ficou lá...acho que talvez seja melhor assim, o sofrimento calcificou, a lembrança agora é turva, a consciência amplia o caminho do futuro, aliás do dia seguinte. Então? vou pensar no meu filho, vou pensar em nós dois afim de realizar a caminhada da existência e da sobrevivência... vejo meu amor distante e dou graças a Deus... mas tenho uma ponta de ressentimento: queria que tudo tivesse sido diferente. Calo-me!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Como se já estivesse prevendo, tudo não passou de poeira. Não adianta, há de insistir, persistir se não vai dar nada além daquilo que nos faz penar... isso não deve a nada, além de nada... ilusões pra quê?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cansei... cansei de falsos amores e de falsas ilusões gostosas sobre uma possivel estrada que me levasse a algum lugar melhor... Estou vivendo uma aventura: a da existência nua e crua... a da recriação... junto a tudo isso uma pequena criatura que salta em meu ventre... somos nós dois, um protegendo o outro contra o frio do esquecimento... um aquecendo o outro contra o frio do silêncio. Não quero mais correr atrás de algo que me consumiu e que não me deixou nada além de mágoas. E quero deixar histórias de fracassos lá atrás, mofadas no tempo...

domingo, 14 de junho de 2009

(...)

mais um dia e a coisa parece crescer... mas que coisa é essa?

lembra do manuel de barros? inventar coisas pra falar de outras que a gente não quer mais lembrar... desenhar linhas invisiveis pra certificar que nada de mal pode nos afetar...
logo lembrar que o dia amanhece, que a dor passa, que as lembranças caducam...

pra quê então, ficar dando beijos em ponta de faca? acariciando lâminas enferrujadas? maltratando os ouvidos?

deixa o sol brilhar e os meninos nascerem...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

" só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, entre nós , para ser. Não é possivel pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão."
paulo freire

terça-feira, 26 de maio de 2009

terça-feira

escrevo para poder registrar o que melhor há de mim: pude criar e recriar...
ele vem, é mais um menino e espero que seja bem nascido...
que tenha a polidez de um diamante e que possa aprender a respeitar tudo que seja vivo
que a poesia o traga de novo...e lhe mostre o caminho...
que a música que já corre em seu sangue possa dar frutos
e que a vida lhe dê o retorno do silêncio batizado de alma
como recompensa...
já te amo com o amor do segredo mais que o todo...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

agora

agora vejo o quanto me perdi esperando algo que não existia dentro de um coração morto e gelado
a dureza só se confirmou quando pulei no abismo e não havia olhos pra me salvar...
aquilo que um dia pôde existir ficou no passado junto com minha alma já cansada... a espera do fim
e ele chegou...
e como se não bastasse, esse fim me trouxe de volta a um recomeço... onde não havia mais frio... e me deu de presente mais uma vez, uma nova alma...
para usar como se o fim dessa vez fosse o começo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

esperei pelo resultado que já sabia a resposta: é isso mesmo...
um vazio preenchido...
lembro que o zero não é vazio?!

terça-feira, 28 de abril de 2009

um pedaço de mim, pouco traduzido

“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.” Clarice Lispector
e é isso mesmo: como sobreviver a rodas de samba e afins? ...
mais um dia, ontem antes de começar a dar aulas li sobre um blog " para francisco", e o considerei belo...fui dar aulas e fui muito bem recebida pelos alunos: crianças e pré-adolescentes... todos muito felizes com a minha chegada...

Esses dias tem sido muito ansiosos pra mim...além do pré-natal, além dos hormônios, além das escolhas, restou-me alguns fiapos de luz no fim do túnel. Resolvi então escrever sobre essa minha "saga", completarei 03 meses de gravidez no dia 30/04 e só isso me salva da completa abdicação da vida...existe em mim um desejo latente de sobreviver... sobreviver. Além das descidas de humor, contrabalanceadas com as alegrias e solidão... penso mais em ver o meu filho, senti-lo e amá-lo do que qualquer outra coisa... Penso então em como uma simples e complicada criaturinha que bebe meu sangue e é fruto de minha carne pode me tornar tão simples e completa...é muito estranho.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ontem...foi mais uma eternidade
te vi ... assim, dentro de mim a sobreviver a esse caos todo
guardado do mundo...

foi-se embora os medos,
a escuridão,
o vazio

sobrou poesia...
liberta e salva de vaidades...

terça-feira, 7 de abril de 2009

SALVE SOLANO TRINDADE
pois bem... acredito assim:
que nasça uma estrela onde a ferrugem da miséria da alma está ancorada
porque? tudo bem... as palavras somem no vento; desaparecem na tristeza
e é amarga e doce as lágrimas da ausência...
e como é feliz senti que nada...nada...
transcende mais o mundo que o ato de criar.
poema de Solano Trindade

Balada do Amor

É preciso fugir
De todo o amor que faz sofrer
É preciso fugir do amor...
Talvez a chuva lá fora faça bem
Talvez o frio da noite
Seja como alguém...

só pra desbaratinar a alma cansada de guerra...


sábado, 21 de março de 2009

aquele que espera

e... mais um pras rodas de samba

mais um que o coração bate e espera a chegada
alias
senti seu pulso...seu amor verdadeiro...
tô apaixonada pelo sua chegada...
brindar o amanhã...

quarta-feira, 4 de março de 2009

como disse Nietzsche:

" SEU SOU EU"... pro infinito das coisas que nascem e morrem...

segunda-feira, 2 de março de 2009

crio confusões...
amanhã já não existe mais...
quem sabe das coisas não piora o dia
melhora.
Inclusive sobrevivo a cada minuto.
e daí?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


então é isso , apesar de tudo...

acordo ,conecto, penso e me recolho


leio algo sobre desejos confinados no século XVII, como nao pode deixar de ser,

não mais tranquilo como os nossos contemporâneos ameaçadores desejos...

e de cara vejo registros de pele... de pêlos... de cheiros... de músicas.


o dia amanhece...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009



aí fico pensando:

que fim vou ter?se o terei, espero que seja coberto de louros e ouro...só de ter de ficar na madrugada esperando...ter mais de um amor pra cuidar...fazer as unhas; chorar e ser chorada; não obedecer a conselhos...pensar em escrever e não ter nada pra dizer, além de suas próprias ilusões...

cansar de ser a mesma pessoa; se fabricar novamente e terminar na sua boca...lânguida... ser cor-po-eira...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

como sobreviver a rodas de samba e afins:
1 - insista em viver...
2 - selecione a opção de sorrir o tempo todo...
3 - sorria de tudo: das desiluções do amor;
das noites de solidão;
da prancha que você fez, e que de degosto ela empenou...
do amor que o tempo curou
4 - se deixe levar pelas madrugadas...
5 - pense que você é a mais linda mulher: a mais bem amada...
a mais colorida de todas...
que seu amor supera toda a insensatez...
6 - insista em viver... mesmo que seja dificil... mesmo que tenha recaidas...
sempre...
aquilo que passou ... já era... mas mesmo sim
existe o vestígio

o vestígio do que fui e o que nunca mais será
de tudo que ficou no vazio e no todo nosso de cada dia

é muito mais...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

repetição

que crise é essa? mais uma tatuagem.
Mais um pedaço de Lima Barreto na minha vida... ah...! agora dispenso a clarice lispector e o vinicius de morais táh?! meu mote é o Lima... a chuva... a espera pelo sol e mais uma cerveja...aquele amor que tinha antes virou novela das oito, próximo e que chegou ao fim...

Um dia desses me apareceu uma musa, que logo se perdeu na madrugada ( que saudade). Também me apareceu uma confusão...meu coração palpitando... um trago de uma coisa forte e galopante, mais uma dose que me fez ver dragões, o peito explodir, uma tentação... um dia amanhecer aceso.

Perdi meus olhos abertos, os encontrei adormecidos e entorpecidos. Penei. Bebi. Chorei. Sorri. Perdi. E estou assim...
Espera aÍ: quero me levar pro infinito das coisas vivas...

insistir

Estava lendo o "Livro das ignorãcas" do Manuel de Barros, quanta delicadeza...

" Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos_
O verbo tem que pegar delírio."

Penso:
quanta delicadeza me faz falta...
não quero ser importante... quero ser amada...

"a insensatez que voce fez... coração..."

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



"o meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescêencia. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consaola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo..."machado de assis



trabalho de intervenção

2007 - betim

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

o portão

Então chega de nada fazer pra mudar...
mudar de nome...
De nome e de profissão...
montar o menu da refeição
quem o coração come e cospe?
transpirar emoção
quem me dera tivesse tido todo o desabor do mundo...
mas não...
Estou me derrentendo no açucar do beijo amargo da madrugada
com samba...

quem me dera ter tanta pretensão... segurar na minha mão
põe na minha boca as palavras que tanto quis dizer e que não sairam
mas ficaram presas na sua boca quando te beijei
vocÊ partiu...
eu fui embora...
vem de novo a madrugada!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

quer saber mesmo: você é demais...

segunda

segunda com samba do trabalhador... fiquei assim, entre uma cerveja e outra, olhando a passista se exibir, te procurando no meio de todos e do nada. ENtão me entorpeci de tudo que podia... te achei na madrugada, me completou... me olhou... me tocou e desapareceu em meio à fumaça...

mais uma noite... um mote... e um faltar...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

cadê

ontem foi domingo, resultado: falta de samba... de cerveja e muita água...
fui ... não to nem ai...Sinto saudade, ácida, cáustica e corrossiva...